25.2.08

Na Imprensa

“Os vencedores

Márcia Lança de Lisboa, venceu com “O traço e a ausência”, um projecto de dança, mas que desafia a definição. A sua proposta é pertinente e madura tanto no nível de rigor e coerência da interpretação, como no género do espectáculo que se insere numa clara corrente contemporânea, mais dada às artes dos trabalhos manuais e ao pormenor. Um trabalho de minúcia e sensibilidade de construção em papel, com sentido critico e humor”.

Galhoz, C. Retrato do artista enquanto jovem. Expresso. Lisboa. 14 Outubro 06. Actual, p. 20/21.


“Miguel Bonneville e Márcia Lança são dois nomes da novas geração de criadores de dança que se movem em territórios de difícil categorização. Raramente dançam. O desafio para o espectador, no caso destes autores, é olhar para o que propõem como projectos artísticos singulares. Trata-se do afirmar de territórios e identidades artísticas que traduzem o desejo de comunicar uma inquietação ou de experimentar o desafio da imaginação criativa. O resultado – as peças que apresentam – pode concretizar-se em diferentes «media» ou linguagens e organiza-se a partir da combinação de imagens, fragmentos de narrativas, estruturadas numa lógica pessoal, que raramente compõem uma narrativa linear – antes sugerem ao espectador que, a partir da forma como se relaciona com tudo o que é apresentado, construa a sua história e seja também ele (o espectador) um pouco autor da peça. (...) Márcia Lança (...) foi vencedora do concurso Jovens Artistas Jovens, com o solo dos joelhos para baixo, que agora apresenta na Covilhã. No caso desta obra, é convocado o imaginário dos contadores de histórias para crianças mas deslocado para um imaginário adulto, com requintes de pormenor deliciosos e alguma ironia, a partir da execução de trabalhos manuais. Grande parte da acção consiste no recortar bonecos de papel, com os quais vai construindo um mundo, “uma cidade”, onde decorrem uma «série de acções com homens e mulheres de papel».”

Galhoz, C. Novos Mundos. Expresso. Lisboa. 19 Maio 07. Actual, p.36.


“Estreia pessoal da coreógrafa portuguesa

Um mundo onírico de papel assinado por Márcia Lança


Dos encantamentos virtuosistas do novo circo à performance mais íntima e refinada, Márcia Lança ataca no Festival Vie Scena Contemporanea com o primeiro trabalho em nome próprio, enquanto criadora de um mundo onírico de papel. (…) Com a sua estreia chama imediatamente as atenções ao mundo do teatro português, ao chegar à final do concurso Jovens Artistas Jovens. O prémio, promovido pelo Centro Cultural de Belém em Lisboa, é organizado de maneira a apoiar os artistas emergentes do ponto de vista técnico e de produção. Embora seja a primeira experiência como autora, no seu currículo figuram colaborações com os coreógrafos portugueses mais conhecidos, como João Fiadeiro, considerado o pai da nova geração da dança lusa. Outro nome assinalável é o de Cláudia Dias que, com “Visita Guiada” apresenta uma viagem sobre o fio da memória e da autobiografia dentro da própria cidade. É com Cláudia Dias que Márcia Lança trabalha em 2004 em “Três Figuras do Excesso”. Em “dos joelhos para baixo”, Márcia Lança deixa-se sugestionar por uma lembrança de infância: traços de lápis sobre uma folha de papel e a impossibilidade de os apagar, a exigência de lhes esboçar percursos que permaneçam nítidos. Este ponto de partida gráfico transforma-se numa forma viva, suspensa entre o corpo da performer e a estrutura de papel. O espectáculo começa com uma figurinha de papel recortada mas basta um copo de água ou um pequeno rasgão para destruir o universo que se criou até então, e que se multiplica em várias formas nas mãos da bailarina como prolongamentos incertos de uma realidade, apesar de tudo, frágil.”

Bellini, B. e Oliva, L. Onirico mondo di carta firmato da Márcia Lança. Jornal do Vie Scena Contemporanea Festival. Modena. 15 Outubro 07.


“A crua delicadeza de um mundo de papel

(…) No perímetro escuro do espaço cénico, simples fontes de luz, iluminam, moderada e alternadamente, a lenta construção de uma pequena cidade de papel, na qual alguns homens entram em acção pela mão de Márcia Lança. Outros objectos e alguns simples elementos como água, fogo ou areia concorrem com o misturar das existências deste pequeno povo branco apontando-lhe o destino com um realismo cru. A performance de Márcia Lança encanta pela simplicidade mas, sobretudo, por uma dimensão crítica que consegue impor-se com uma eficácia clara e uma violência subtil. A nossa existência, privada e social, é questionada com essencialidade e coerência, sem o desejo de querer dar muito mais do que aquilo que existe realmente, sem procurar a cumplicidade do espectador com conceitualizações abstractas, e sem as contaminações de uma violência demasiado exibida e tantas vezes vazia. Ao contrário, Márcia Lança consegue trabalhar a partir de realizações minimais, como o cortar de um homem de papel em pequenos pedaços para depois escondê-lo debaixo de um grande edifício, símbolo do poder. “Dos joelhos para baixo” é o primeiro espectáculo de uma jovem artista que conseguiu encontrar uma linguagem que fascina e faz pensar.”

Fumagalli, A. La cruda delicatezza di un mondo di carta. Jornal do Vie Scena Contemporanea Festival. Modena. 18 Outubro 07.

“O frágil destino da Humanidade contado por homens de papel

É delicado e frágil o espectáculo que a portuguesa Márcia Lança apresentou no festival Vie di Modena. Márcia é jovem, estuda antropologia, circo e dança. Neste espectáculo interroga-se sobre a essência do movimento, o seu registo e o lado obscuro do seu contínuo desaparecimento. Dito isto, em Dos joelhos para baixo não existe nada de evasivo nem de cerebral. Assiste-se a um pequeno espectáculo de figuras, semelhante àqueles que se viam há uns anos no festival Micro Macro em Reggio Emilia. Márcia rasga homens de papel. Coloca-os de pé com fita-cola. Ao redor deles constrói diferentes contextos: uma pequena cidade, uma igreja, uma fábrica, condomínios... Tudo em papel branco, tudo iluminado por simples luzes de mesa-de-cabeceira. Ela, de joelhos, faz de destino. Afoga um homem e depois ressuscita-o, secando-o. Um outro é cortado com a tesoura, e outro ainda sepultado debaixo da igreja ou de um monte de pedras. Mas os pedaços podem ser reagrupados, e tudo pode recomeçar noutro lugar, sem deixar sinais neste mundo retalhado.”

Marino, M. Il fragile destino dell’umanitá raccontato da omini di carta. Corriere della Será. Milão. 19 Outubro 07.

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